Neste mês, é celebrado o “Setembro Verde”, que ressalta a conscientização de doação de órgãos e tecidos
Miguel, de 14 anos, mantém-se firme no sonho de ser jogador de futebol. Gláucia, de 38, que sempre imaginou constituir família, casou e gerou dois filhos: os gêmeos Victória e Lúcio Flávio. Maurício, 57, desejava viver o máximo possível. Mantém-se ativo até hoje. Todas essas aspirações foram possíveis graças ao aceno de uma família que, em luto pela perda de um ente querido, optou pelo “sim”. Neste “Setembro Verde”, mês de conscientização da doação de órgãos e tecidos, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), ao lado da Central de Transplantes do Estado, reforça a importância da ressignificação da vida lançando a campanha: “Seu Sim, Uma Nova História”.
Para a multiplicação de finais felizes, o “Setembro Verde” chama a atenção para a negativa familiar. Em Pernambuco, o “não” segue como fator determinante na demora dos transplantes e, consequentemente, no aumento das listas de espera. As coisas estão melhores. Este ano, a Central registrou 55% de negativas – 5% a menos que em 2023. O número ainda é alto, mas em 2024 a SES-PE quer agradecer aos 45% dos familiares que foram positivos e, ao lado da dor, ajudaram a construir novas trajetórias, que pareciam impossíveis, como as de Miguel, Glaucia e Maurício.
O comprometimento com a doação de órgãos é urgente. Este ano, a lista de espera registra 3.589 pacientes. Miguel e Gláucia já vivenciaram a ansiedade da espera. Tiveram complicações hepáticas fulminantes, que levaram à necessidade do transplante de fígado. Em 2024, 68 pessoas passaram pela cirurgia, enquanto 146 aguardam a notícia de que sua história vai continuar por muitos anos.
“Eu sou muito agradecida à família que permitiu a doação. Não conheço, mas ter optado por doar, mesmo com tanto sofrimento, poder me dar a chance de ter uma família, filhos, eu me emociono sempre quando conto essa história”, afirma Gláucia. “Deixei de fazer tudo quando adoeci. Voltei a jogar futebol e, no bom sentido, continuo dando trabalho à minha mãe, como todo filho”, brinca Miguel, que se operou no início deste ano e pode ser visto desfilando nos campos do município de Gravatá, onde reside.
Maurício recebeu um novo coração, graças ao “sim”. Pelo sofrimento anterior à cirurgia, decorou número de internamentos, dias em uti, quantidade de cateterismos aos quais foi submetido. A lista de coração, atualmente, tem 23 pessoas à espera do órgão. Este ano, 17 foram operadas. Em 2023, 24 pacientes passaram por um transplante cardíaco. A meta da Central de Transplantes é ultrapassar este número até dezembro. “Assim que você faz o transplante, a vida muda. Voltei a caminhar, respiro e durmo normalmente. Antes, parecia impossível para mim caminhar mais de 10 metros”, relembra.
Algumas listas de espera do estado estão mais críticas. Vale a pena tomar nota, porque hoje 1.880 aguardam por um rim. Com relação à córnea, são outros 1.493 pacientes que esperam pela comunicação da Central de Transplante informando o grande dia da cirurgia.
“Com a pandemia, o isolamento e o afastamento “pessoal” no tratar, houve um grande retrocesso na doação de órgãos. Alguns estados já se recuperaram completamente, mas ainda não atingimos nossos resultados de 2019. Comparando o primeiro semestre de 2023 e o de 2024, é verdade que tivemos um aumento global nos transplantes na ordem de 8,4%, com ênfase no transplante hepático, com um aumento de 25%. Todavia, nossa lista de espera subiu de 3.180 para 3.589 pacientes”, destaca o médico André Bezerra, coordenador da Central de Transplantes do Estado.
Como a diminuição da espera passa pelo “sim” das famílias, André Bezerra, em 30 anos de Central de Transplante, vê como um milagre o poder da doação de órgãos. “Continuo me emocionando a cada “sim”. Nós, que ficamos no meio da “ponte”, vemos o poder de transformação que essa palavra tem. O poder de mudar a vida de pessoas, de salvar essas pessoas e suas famílias, de negar aquele destino fatídico que bate à porta. No final, se resume a isso. O “sim” tem o poder de mudar o destino. E o poder de mudar o destino se chama milagre”, exalta André Bezerra.