POR BRUNO OLIVEIRA…
Sim, todos podem falar!
Não há nenhuma exceção, todos podem expressar seus pensamentos por mais esdrúxulos que sejam, por mais assustador e tenebroso que pareçam, eles têm quem o escute e lhe deem razão. Não vivemos mais na época que os especialistas falavam de suas especialidades, onde aqueles que de fato sabiam e tinham propriedade em temas eram ouvidos e tinham suas opiniões validadas. Estamos vivendo em uma época assustadora que todos querem ter razão.
Umberto Eco estava certo: “as redes sociais deram voz aos imbecis”. No século das comunicações, onde todos podemos falar o que pensamos, sentimos; gravar o que vemos e queremos que os outros vejam, gravar áudio e espalhar de forma viral; temos uma imensidão de imbecilidade multiplicada, um grupo de seguidores dando “like”, confirmando que a imbecilidade contagia.
Antes, onde havia um monopólio da comunicação, o aparato da notícia oficial oprimia e construía suas próprias verdades; estabelecia e engessava os discursos, e assim, cabia ao homem comum apenas aceitar, sem que ao menos, suas discordâncias pudessem ser ouvidas. Mas a virada do jogo não ocorreu tão bem como desejávamos, todos falam e como consequência, todos querem ter razão.
Uma rápida leitura em uma rede social, já diploma especialistas em arte, educação, política e em uma infinidade de temas; todos são especialistas, e elaboram suas falas sem filtros, sem o polimento necessário que uma especialidade poderia lhe garantir. O tanto que a internet nos deixou livres, também nos deixou a mercê da propagação da imbecilidade.
Como costume do meu dia a dia, fui me ocupar nos afazeres domésticos, não tem nada melhor que lavar os pratos e panelas ouvindo algo, o tempo passa mais rápido. Pois bem, mas a ferramenta de reprodução automática do YouTube me surpreendeu com um vídeo esdrúxulo: um Youtuber afirmando a sua imbecilidade, ele combatia com todas suas forças a campanha “não chame sua filha de princesa”; o imbecil entendeu errado, interpretou que não chamar sua filha de princesa remeteria a um tratamento indelicado e sem o devido carinho.
Chamar a filha, namorada, esposa ou qualquer mulher por princesa, é uma afirmação indireta de todo um formato patriarcal de família e tratamento onde a mulher se torna apenas um símbolo de beleza emudecida, sem o direito de impor sua opinião e ser respeitada por ela. A princesa é a figura da mulher do lar, a que tem que se manter bela para o marido, que não questiona a autoridade masculina, que não é dona do seu corpo, é o símbolo mor da mulher bela e muda.
O remédio para essa doença que se alastra está nas estantes empoeiradas das bibliotecas, os livros apontam para a cura, são eles que podem nos salvar do mar de imbecilidade que são disseminadas diariamente.
Mais uma vez recorro a Umberto Eco: “O excesso de informação gera amnésia”. A sociedade contemporânea parece desembarcar diariamente na ilha dos lotófagos e consomem sua flor provocadora de esquecimento. Cada vez que empoderamos essa geração de Youtuber, é um mastigar da flor de lótus, é esquecer e desconhecer nossa história, é desacreditar que o passado nos educa para sermos seres humanos melhores e não cometermos os mesmos erros de outrora.
Infelizmente, o que parecia bom não é; o excesso de comunicação não está nos fazendo bem; temos urgentemente que selecionar, recortar e recompor, só assim construiremos o conhecimento importante para nossa sobrevivência.