POR BRUNO DE OLIVEIRA…
Essa semana houve um ensaio para a (re)inauguração de tempos sombrios no Brasil, envolvendo varias situações e vários lugares sociais, porém todos discretamente concatenados, deixando um caminho de rastros indicando o quão pavoroso são esse tempos em que estamos passando.
Não podemos ignorar que paulatinamente estamos entrando nesta caverna de terrores sociais, de indexação de literatura, dos milicos expressando palavras de ordem, tempo perigosos, assustadores e extremamente complicados. Quero acreditar que todo esse terror que tem sido ensaiado seja apenas um ensaio, e que não tentem projetar para uma realidade materializada de terror e ditadura.
O General Mourão, com tom de conclamação para uma trincheira, usando de uma fala provocada intencionalmente em uma loja maçônica, deixou bem claro as intensões de uma parte dos milicos que ainda pensam nostalgicamente em 1964, na possibilidade de uma intervenção militar, ele deixou claro, se o judiciário não agir os milicos colocaram os blindados nas ruas, invadirão o congresso e (re)inventará o Brasil com ordem e progresso. É bem verdade que, todos os militares não pensam da forma que o General Mourão se expressou. Buscando tentar esclarecer (ou o contrário), Pedro Bial, eterno apresentador do BBB e autor das crônicas que nem os participantes nem os expectadores entendiam, entrevistando o Chefe do Estado Maior, General Villas Boas, provocou o General pela tomada de posição contra ou a favor de Mourão, para nossa surpresa ou não, o General Villas Boas ratificou a fala do outro General, deixando no ar um tom sombrio de medo e controle social disciplinar anacrônico. E já estão ensaiando sua ações no Rio de Janeiro, com a desculpa de combate ao crime organizado.
Esse só foi um dos acontecimentos sombrios desta semana. Anterior a isto, tivemos uma discussão extremamente “emburrecedora”, principalmente por se tratar de uma discussão realizada entre. Imaginem, professores indexando livros de literatura infantil porque tratava do tema incesto, onde um rei desejava se casar com a filha, e esta por tanta pressão psicológica acabara se suicidando. Alguns dirigentes de educação municipal, professores e técnicos pedagógicos surtaram, e encamparam a campanha de indexação contra essa literatura, que na verdade seria um ótimo instrumentos para tratar essa questão de abuso sexual e quem sabe, de resolução de problemas. Imaginemos, se isso encaminhar sem ser parado, o que será de nossa literatura clássica brasileira e de teatrólogos consagrados como Hermilo Borba Filho? Em tom provocador trarei um trecho de uma obra clássica das memórias de nosso teatrólogo palmarense, e espero que também não seja por isso indexado:
“Eu não podia imaginar o fim daquilo tudo, já não tinha noção de tempo, a vontade completamente domada, mas o problema não era precisamente este, porque, embora revoltado, me comprazia de maneira violenta na prática da cúpula anal, chegando mesmo a desconhecer por completo que ela possuía uma vagina, apenas o espigão ao alto mas em função sempre de um melhor aproveitamento do coito invertido.” (BORBA FILHO, Hermilo. Margem das lembranças. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993, p. 143)
Professores, vamos indexar essa obra também? Proibir que nossos adolescentes leiam Hermilo, Aluizio Azevedo, Freyre. Isso é baseado em que conceito “burro”. Argumentem por favor! Nesta mesma rota de ignorância, tivemos na semana passada a proibição da exposição patrocinada pelo Banco Santander. Por trazer cenas provocadoras, abordagem de sexo em diversos formatos. É importante dizer que não era uma exposição aberta a todos os públicos, tinha uma limitação de idade e essa exposição estava num local fechado, ninguém era obrigado a ver, mas os fundamentalistas ignorantes se incomodaram, em seu desejo do mundo cinza.
Por fim, e completando esse conjunto de atos de horrores sociais, políticos e culturais que assombraram o Brasil nesta semana, tivemos o retorno da “cura gay”. Ora, ser gay é doença bacteriana ou viral? Quais os sintomas? Melhor tratamento? Ser gay é uma orientação sexual, uma opção de vida em caráter subjetivo, uma escolha privada, pessoal e indiscutível. Propor uma “cura gay”, uma espécie de tratamento psicológico de reversão sexual é na verdade um estupro, um abuso explicito. Imaginem o Estado legislando sobre seu corpo, a antiga soberania da figura regia, dominando os corpos e controlando as mentes.
Desejo acordar desta semana de terror, e perceber que tudo já acabou. Semana sombria, por favor, termine logo!