O Recife ganhou, nesta terça-feira (2), uma estátua em homenagem a Reginaldo Rossi, cantor e compositor que morreu, aos 69 anos, de câncer de pulmão em 2013. A obra está localizada no Pátio de Santa Cruz, no bairro da Boa Vista, no Centro da capital pernambucana.
A escultura mostra o Rei do Brega sentado numa mesa de bar, à espera de quem chegar. Sobre a mesa, há o microfone, uma rosa, a bandeja com copos, a cerveja e um pedaço de papel, como se ele estivesse escrevendo a letra da música “Garçom”.
A obra é resultado da imaginação do arquiteto e escultor Demétrio Albuquerque, de 59 anos. Ele é o artista que criou as estátuas dos poetas do Circuito da Poesia, espalhadas em vários pontos do Recife, além de ter feito o monumento Tortura Nunca Mais, localizado na Rua da Aurora, no Centro da cidade.
Demétrio se inspirou na música “Garçom” como ponto de partida para criar a estátua de Reginaldo Rossi. “Eu imediatamente pensei no ‘Garçom’, na ideia da música dele porque é uma música de uma interatividade, é uma conversa dele com outra pessoa. Eu disse: ‘ah, isso cai muito bem com a interatividade que eu busco em todas as peças do circuito’”, contou.
Em um mural, dezenas de fotos de Reginaldo Rossi mostravam várias fases da vida do cantor e compositor, ajudando o escultor a chegar a uma versão final da estátua.
“Ele está com meia-idade, digamos assim. Eu recebo muitas fotos, pesquiso na internet também e tiro uma mescla de idades mais novas com outras idades mais avançadas, mais próximas do falecimento das pessoas para preservar as caracterizações. Então, na realidade eu faço uma caracterização entre o jovem e o velho da pessoa”, explicou.
Durante a criação da estátua, muitos detalhes preocuparam o escultor, como o tamanho do cabelo, a roupa, os óculos.
“A dificuldade minha foi os óculos porque escondem o olhar. Eu até pensei em fazê-lo sem os óculos, mas fui rechaçado na hora, pois todo mundo o conhece com aqueles óculos. Tentei dar uma expressão, alguma coisa na boca, no jeito de ser para que ele tenha, de qualquer forma, esse olhar, mesmo através dos óculos”, afirmou.
“Eu digo que o escultor é aquele pretensioso que trabalha para 20, 30 anos que vêm. Exatamente, a gente não estará mais aqui, mas quer que a obra continue. Embora o concreto precise dessa manutenção, ele exige que se tenha um certo cálculo estrutural porque ele tem a ferragem, tem toda a montagem, a parte de forma também. Então, eu tenho que adequar o artístico com a segurança, com o cálculo estrutural”, declarou.
Ao todo, foram quase dois meses de trabalho no ateliê dele, em Olinda. Primeiro, a escultura é feita em argila, em uma base que serviu para fazer a forma de gesso posteriormente preenchida pelo concreto. Através de um trabalho feito a seis mãos, cada pedaço do gesso foi retirado, revelando quase meia tonelada de concreto e arte.
“Como artista, eu sinto um prazer enorme e uma ansiedade nessa fase que está nascendo a partir da forma. É como um parto. Na realidade, é um parto”, disse.
Blog Tenório Cavalcanti