POR BRUNO OLIVEIRA (Mestre em história pela UFPE)…
Em memórias Póstumas Brás Cubas, texto narrado por Machado de Assis, em um trecho de sua narrativa, ele reflete bem o que chamo de “Síndrome do bom escravo”. No trecho intitulado “O menino é pai do homem”, narra um acontecimento chocante para os dias atuais: O pequeno Brás trepado no dorso do moleque indigente, como quem monta num cavalo; em suas mãos uma varinha que fustigava o pobre moleque indigente que se fazia de cavalo; o pobre moleque obedecia em tudo, fustigado não gritava, gemia baixinho, mas não reclamava, quando muito dizia: “ai, nhonhô”, ao que logo o pequeno Brás falava: “cala a boca, besta”.
Josué de Souza, sempre costuma repetir a seguinte afirmação: “No Brasil, temos uma elite escravocrata! ”; essa fala nunca foi tão real e palpável como nos dias presentes. A Materialização das perdas legais historicamente construídas por anos, das conquistas da classe trabalhadora que tem sido sepultadas pelo atual governo, medidas de alteridades que si confundi com desejos escravocratas vestidos do discurso de modernização. Isso não é modernização, é retrocesso!
Esse texto não se trata unicamente de uma crítica as ações do Governo Temer, mas um alerta. Temer não passa de um instrumento da elite escravocrata e entreguistas brasileira, elite desapegada do sentimento de nação, que não tem nem resguarda nenhum símbolo de patriotismo. Corremos o risco deste governo (com “g” minúsculo) revogar a Lei Aurea, aliás, já o fez!
A elite escravocrata, a mesma que batia panelas, que ia as ruas, que fechava a Avenida Paulista, que junto com a FIES criaram o “pato”, o “pichuleco”, a que gritava fora PT, ela conseguiu! Ela hoje exerce o poder! E nós, pobres, negros, gays, favelados, povo brasileiro somos destinados, novamente, aos porões da senzala, onde apenas se ouve gemidos, onde a revolta se faz com “choros engolidos”, com as argolas nos pescoços e enfileirados para a morte; uma morte lenta, dolorida e degradante.
O primeiro golpe já recebemos, a chamada Reforma Trabalhista, que a elite escravocrata tenta anuncia-la como símbolo de modernização e geradora de empregos nada mais é que passos para um passado que acreditávamos ter morrido, e que agora desperta de forma fantasmagórica, metamorfoseado e vestido para um ato inaugural. Mas será que a senzala condenada à morte, afastada de suas afetividades, que rompeu drasticamente com suas crenças num futuro de progresso silenciará e continuará emudecida frente a esse fantasma trazido pelos escravocratas do tempo presente?
Por isso recorri ao trecho de Machado de Assis, o mesmo trecho que na primeira vez que o li fiquei chocado e tomado de angustia, mesmo sabendo que se tratava de um texto literário, não poderia deixar de notar similitudes com o passado da História do Brasil. Este passado me assombra e deveria te assombrar também! Não podemos concordar com a materialização do discurso freyriano de harmonia social, acreditando que as medidas tomadas pela elite escravocrata brasileira têm intenções de benesses com o povo da senzala.
A senzala não pode aceitar passivamente o “nhonhô” em seu lombo a fustigar, temos que ser tomados por um espírito de revolta e derrubá-lo do nosso dorso, pisá-lo e deixa-lo imóvel sem força e nem vitalidade; temos que fazer perceber a força que temos, mostrar que somos mais que força de trabalho, que somos mais que braços fortes e pernas ágeis; temos que mostrar e demonstrar que não somos feito de “práticas cordiais”, como tentou explicar Sergio Buarque de Holanda ao ler de forma weberiana o Brasil.
Não somos bons escravos, nunca fomos!