POR BRUNO OLIVEIRA…
Semana passada me aventurei na escrita, como faço toda semana, pensei que se tratava de apenas uma semana turva do atual drama brasileiro, mas acredito está enganado, a situação é altamente grave, estamos de fato em dias sombrios.
Um estado de exceção esta se instalando silenciosamente, como um ataque de uma serpente. Percebam, uma serpente altamente venenosa não faz barulho em seu ataque, vem sorrateiramente e mata a presa, isto está acontecendo, estamos perdendo os fundamentos democráticos, a república estar ruindo, os poderes não se respeitam, os políticos são seres sem créditos e o povo, por ignorância, pede intervenção militar.
Sim, volto a tocar neste assunto, e, por favor, levem a sério! Estamos correndo este risco. Temos clamores nas ruas, no congresso há apoiadores e até na esfera jurídica, assim diga o Ministro do Tribunal Superior de Justiça, Og Fernandes, que esta semana, em uma enquete no Twitter levantou o questionamento sobre a possibilidade de uma intervenção militar. Digam-me, isso é algo para um Ministro do STJ cogitar numa rede social?
Todos estão percebendo, o judiciário não se comporta mais como guardião da constituição e da justiça, perdemos esta referência; fletam todos os dias com o poder político, se comportam como a solução proba para todos os males brasileiros, usam redes sociais, falam mais nela que nos autos. Moro, STF, Procuradoria são apenas elementos de um jogo bem mais profundo, eles foram apenas o caminho para uma nova proposta autoritária de Brasil.
Essa semana o STF demonstrou quede fato não se comporta como interprete da constituição, mas chamaram para si a função legislativa de propor emendas constitucionais. A interpretação que por fim autorizou o ensino confessional nas escolas públicas é uma afronta clara a constituição. Assim, o STF permitiu que o artigo 5º conflita-se com o 210º. É essa a função do STF?
O estudo confessional irá afrontar milhares de crianças e adolescentes com suas crenças e doutrinas. Quem é professor ou quem já conviveu em uma escola, sabe o quanto diversa ela é, estabelecer um discurso uníssono de uma confissão religiosa por escolha da rede de ensino, da escola ou do professor afetará a proposta de uma escola laica e que respeita a diversidade. Imaginem se o professor for adepto da umbanda, e ele for ensinar sua religião em sala de aula, suas doutrinas, práticas e fé, o que os cristãos dirão? Qual será a reação dos pais e alunos? E se for o contrário, o que de fato será mais comum, os umbandistas, espíritas, islâmicos continuarão sendo invadidos por conceitos que afetam a sua fé, e dependendo do tom do discurso, afetam a sua dignidade?
Estamos em um caos, à república está morrendo. A “coisa pública” agoniza, perde o sentido, parece não conseguir reagir aos ataques diários a ela. Nossa república está convalescendo.
Até a arte está sendo cerceada. Um discurso moralista, fundamentalista e ignorante tem tomados às ruas, as casas, escolas, bares. A internet tem sido este palco. Essa semana assistir uma entrevista onde um pobre jovem, desprovido de qualquer conhecimento artístico, questionava a arte e apontava certo e errado numa exposição. Um tal “Arthur mamãe falei”, como é conhecido nas redes sociais, fazia o discurso mais raso possível de arte, desconhecia tudo, suas palavras chegavam a ser entendidas como uma completa exposição de irracionalidade; o básico o garoto não sabia. Porém, uma parte da sociedade o aclama como voz política, símbolo de renovação, referencial dos cabelos pretos.
Para onde vamos? Estamos no fundo do poço, sem referência, sem norte e a republica de esvai entre nossos dedos. Tempos sombrios estamos.