Resgatar a história requer paciência e disponibilidade de tempo para consultas a livros e documentos, habitantes e conhecedores do município de São José da Coroa Grande, considerando desde a época em que era distrito do município de Barreiros.
Mas os resultados são compensadores, tanto pela oportunidade de contribuição às futuras gerações, quanto à chance de escutar pessoas falando com prazer dos tempos passados. É como se vivenciássemos a formação de uma comunidade.
Deve-se ressaltar que este título é dedicado ao Sr. Tertuliano Alves da Silva, que contribuiu com várias informações sobre fatos ocorridos no município, tendo falecido quando este livro estava sendo finalizado.
Malha Ferroviária
A malha ferroviária, hoje desativada, fez parte da história da região. Os vagões, puxados por locomotivas à vapor, denominadas de “maria fumaça”, transportavam lenha, para alimentar as próprias caldeiras das locomotivas, cana-de-açúcar para moer nas usinas, adubos para coqueirais e canaviais e açúcar, em embalagens de caixas ou sacos, para embarque no Praia do Gravatá, além de mantimentos para abastecimento dos barracões dos engenhos e também da cidade de Barreiros.
O ramal da Usina Central Barreiros em direção a São José da Coroa Grande abrangia as estações do Colégio Agrícola – Passagem Velha – Tentugal – Manguinhos ( Estação do 11 ) e Gravatá, onde estava situado o porto da referida usina. Em Tentugal, havia ramal para Campinas, Boca-da-Mata e Gindahy. Em Manguinhos havia ramal para Queimadas, Itabaiana e Arassú, ressaltando-se que nas localidades, sedes dos engenhos, nas imediações das estações havia a casa do mestre de linha.
Os ramais pertencentes à Usina Central Barreiros tinham bitola de 1000mm e chegaram a um total de 125km de extensão, sendo considerado um dos maiores ramais particulares do Brasil.
Uma das locomotivas mais famosas era a de nome Tentugal, nr.50, que até 1962/1963 era matriculada com o nr 8. Tratava-se de uma ten-wheeler, manobreira, fabricada em Kessel – Alemanha, pela Henschel & Sohn A G, que pertenceu a Usina Central Barreiros, depois vendida para a Usina Santo Amaro, em Campos-RJ, e segundo informações ainda em operação no ramal Campinas – Jaguariúna.
Outra locomotiva merece um destaque especial: trata-se da Coronel Othon, nr.06, uma six-wheller, manobreira, fabricada na França pela Corpet Louvet, que pertenceu a Usina Rio Una e depois à Usina Central Barreiros. Esta locomotiva encontra-se restaurada e instalada no Museu do Una, depois de anos em exposição na praça principal da cidade de Barreiros.
São lembrados os maquinistas Luiz Pitu, Miguel Teodoro, Cícero Barros, João Roque, Cícero Cipó Pau e Luiz Edmundo, e como foguistas Cícero da Jia e Cosmo Clemente. Lamentavelmente somente temos registro do guarda-freios Ivanildo, sobrevivente da explosão da caldeira da locomotiva n. 40.
Merecem destaques outras locomotivas que faziam parte das usinas Central Barreiros e Rio Una, como:
Número | Classificação | Fabricante | Ano | Denominação | Origem |
1 | 0-4-0 WT+T | O&K | Carimã | Ex Usina Santo André | |
2 | 2-4-0 T | O&K 2109 | 1906 | ||
6 | 0-6-0 | Corpet Louvet | 1926 | Coronel Othon | Ex Usina Rio Una |
7 | 0-4-2 | KS 2417 | 1915 | Bom Jardim | |
8 | 0-10-0 | Henshel 21212 | 1928 | Barreiros | Ex Usina Carassu |
10 | 0-8-0 | Bagnall 2988 | 1950 | Rio Formoso | Ex Usina Santo André |
11 | 0-8-0 | Bagnall 2987 | 1950 | Jacuípe | Ex Usina Santo André |
12 | 2-8-0 | SS 3478 | 1888 | J. Pinto Morales | Ex Usina Mogiana |
14 | 2-8-0 | BLW | Mascate ( ex Mogiana ) | ||
15 | 2-8-0 | BLW | Laranjeira | Ex Usina Mogiana | |
15 | 2-8-0 | Triunfo | Ex Usina Cucaú | ||
21 | 4-6-0 | Hanmg 5739 | 1909 | Erassu | Ex Usina Santo André |
22 | 4-6-0 | Hanmg | 1909 | Ex Usina Santo André | |
30 | 4-6-0 | Borsig 8177 | 1911 | Maragogi | Ex Araraquara |
32 | 2-6-0 | NBL 19191 | 1911 | Gameleira | Ex GWB 168 – 246 |
33 | 2-6-0 | NBL 19185 | 1911 | Santana | Ex GWB 162 – 240 |
34 | 2-6-0 | NBL 19651 | 1912 | Jundiá | Ex GWB 203 – 272 |
40 | 2-8-0 | BLW | 1904 | Javari | Ex Mogiana |
50 | 0-10-0 | Henshel 21687 | 1930 | Tentugal | Ex Leste |
51 | 0-8-0 T | Hud-Clk 1655 | 1934 |
Fonte: ABPF e outras
Barcaças
As barcaças foram, durante muitos anos e até o final da década de 1960, o principal meio de transporte para o escoamento do açúcar produzido nos engenhos e usinas da região, dentre as quais as usinas Rio Una e Central Barreiros.
Também transportavam pessoas, alimentos e as mais diversas cargas, incluindo combustíveis, entre os portos de estados como Alagoas e Sergipe. Observa-se que no trajeto Barreiros – Porto do Gravatá – Recife gastavam entre dois e quatro dias, dependendo do sentido e velocidade do vento.
As barcaças propriamente ditas tinham 3 mastros e 4 a 6 tripulantes, enquanto que as lanchas tinham 2 mastros e 4 tripulantes. Existiam ainda os pernéis, com 2 mastros e 4 tripulantes e os cuters, com 1 mastro e 3 tripulantes. Registra-se que uma tripulação era composta de mestre, cozinheiro e marinheiros.
Tinham uma capacidade média de 700 a 1.000 sacos de açúcar, podendo ser de particulares ou das usinas. A maior delas era a Pesqueira, conforme registros da Usina Central Barreiros, que tinha capacidade para 1800 sacos
As mais famosas por suas características tinham os nomes de: Arariboia, Natilde, Vênus, Anita, Maria Antonieta, Maria Josefina, Ceci, Sândi, Arambaque, Java, Arambaré, Estrela do Mar, Flor do Dia, Bela Aurora, Anfitrite, Tambaré, Garça, Jandira, Marinita, Arlinda, Santa Helena e Maria Gizélia, do Amaro de Bié. Em Barreiros atracavam no Porto da Estrada Nova, na maré baixa, e no Porto do mercado, quando da maré alta.
Veículos
De antemão, merece registro o cabriolé de quatro rodas puxado por dois cavalos, que a Sinhazinha Dondom, esposa de Dr. Estácio de Albuquerque Coimbra, fazia o percurso de aproximadamente 6 km entre a casa de praia em Gravatá e o Engenho Morim, tendo como “bolieiro” o Sr. Antônio Marinho.
Transporte Coletivo
O primeiro ônibus que servia ao município, por volta de 1950, chamava-se Puirassú e pertencia à empresa Expresso São José, de Antônio Acioli Neto, mas era conhecido como “A sopa do Lula”, devido ao apelido do seu motorista Luiz Acioli Vasconcelos.
Com capacidade para 12 pessoas, era montado em um chassis de caminhão, tinha a carroceria de tábua, o teto em folha de zinco e o motor acionado com alavanca tipo manicaca.
Fazia o percurso São José da Coroa Grande – Barreiros em aproximadamente 40 minutos, pela estrada de barro do Engenho Tentugal. Depois foi construído outro ônibus, com as mesmas características, mas um pouco maior, com 32 lugares, denominado de “Barriga”.
Carro de Praça
O primeiro carro de praça, como eram chamados os táxis, de São José da Coroa Grande pertenceu a Manoel Firmino da Silva, o Sr Manoelzinho. Era um Ford ano 1929, que ele batizou como “Marinete”, em homenagem a uma filha falecida.
Transporte de Carga
O primeiro caminhão utilizado para o transporte de carga no município foi de Manoel Firmino da Silva, o Sr. Manoelzinho. Era um Chevrolet “Gigante”, ano 1941, adquirido de João Batista Bispo, por Cr$ 19.000,00 em 30 de maio de 1946, conforme recibo ainda guardado por sua família.
Observa-se que não somente transportava mercadorias entre São José da Coroa Grande, Barreiros e Recife, mas também pessoas na carroceria, arrumando-as como “pau-de-arara”. Lembram suas filhas que quando as pessoas não podiam pagar em dinheiro, o mesmo recebia o valor da passagem em galinhas, coco e frutas, por exemplo.
Ainda nos dias atuais pode ser visto o transporte de passageiros e cargas na carroceria do caminhão ano 1972 do Sr. Gildo Bandeira de Melo, que faz a linha Abreu do Una – Barreiros nos dias de sábado.
Contrabando
As características geográficas favoráveis ao atracamento e camuflagem das embarcações, além da tradição do estaleiro, que proporcionava suporte técnico, faziam de Várzea do Una um ponto estratégico para o tráfico de mercadorias contrabandeadas, em especial whiskey, entre os anos de 1975 a 1981.
Cada barco transportava uma carga média de 800 caixas com 12 garrafas de whiskey, tendo como porto de origem Caiena e Paramarimbo.
Acidentes
Registra-se um grande incêndio, em um barco com 14 metros, em uma noite no ano de 1981, quando do reabastecimento com óleo diesel, que causou grande impacto ambiental no estuário do Rio Una e Manguezais, tendo as labaredas sido avistadas do centro da cidade de São José da Coroa Grande.
Dois acidentes com o caminhão do Sr. Manoelzinho merecem registro: um deles quando a barra de direção quebrou em uma ladeira, somente indo parar em um local sem perigo, no centro de Barreiros, e outro quando um coqueiro caiu sobre o capô e boleia, mas ambos sem causar lesões aos passageiros.
Registra-se também uma virada do primeiro ônibus de São José da Coroa Grande, após batida em caminhão da Usina Central Barreiros, tendo o mesmo ficado de rodas para cima, mas não se registrando ferimentos com os 12 ocupantes.
Os mais antigos lembram de apenas um único acidente com barcaças, quando a “Maria Josefina” foi de encontro aos recifes de corais. Um incidente merece registro com barcaças, tendo uma delas que não se sabe o nome, sido abordada por um submarino dia 29 de junho de 1945, na costa de São José da Coroa Grande.
Um grave acidente aconteceu com um barco de pesca pertencente a Edinaldo Chagas, que se chocou com um navio matando os pescadores José Morais, Isaías e Otávio, somente conseguindo sobreviver o pescador “Nina”, que foi resgatado após passar quatro dias no mar. Outros acidentes foram registrados, podendo-se dizer que com uma certa freqüência, de barcos que se chocaram com os recifes de corais, dentre os quais com o barco “Maresias”, do pescador conhecido como Desenhado.
Merece destaque um acidente ocorrido com a locomotiva nr.40, não se sabendo precisar a data, que explodiu no Engenho Campinas, em São José da Coroa Grande, matando José Joca, Praxedes e Galego, somente conseguindo sobreviver o guarda-freios Ivanildo. Registram-se também vários acidentes com descarrilamento de vagões, além de alguns atropelamentos de animais e até pessoas, que atravessavam os trilhos.
Em São José da Coroa Grande um incêndio ocorreu na farmácia do Sr. Manoel Barros, tendo forte suspeita de ter sido provocado por um terceiro concorrente.
Segunda Guerra Mundial
Matéria do historiador Ayrton Maciel, publicada no Diário de Pernambuco de 24/08/2003, dá conta que, “conforme relato do investigador especial Pedro Negromonte, com base na Usina Central Barreiros, informa ao delegado do DOPS que às 20 horas do dia 13 de agosto de 1944, em São José da Coroa Grande, apareceram dois navios de guerra nazistas muito velozes, capazes de grandes manobras, com grandes faróis e que logo desapareceram”. Tal observação, segundo o historiador Sr. Ivon Bezerra de Andrade, de Barreiros, foi feita pelo Sgto Gondim.
Baixo Meretrício
A primeira zona da cidade, também chamada de casa de recursos, foi a de Amara Gouveia, na rua da Batateira, onde a animação das noitadas de finais de semana contavam com os acordes do sanfoneiro Augusto Miguel, da cidade de Barreiros.
Depois vieram o Fuá de Zefa Pintada, também localizado na rua da Batateira, que tinha como atração o som de vitrola e a Casa Amarela, na rua Lídio Florentino, que alternava sons de vitrola e sanfoneiro.
As mulheres da vida, como eram chamadas, mais lembradas por seus dotes físicos e virtudes eram Chiquinha Caruaru, Amara Gouveia, Maria Homem, Natinha, Amara da Mata e Maria da Vam, chegando algumas delas a ser consideradas como amantes de homens de grande prestígio político e econômico na região.
A bebida preferida era aguardente Pitu, Imaculada e Serra Grande, pois cerveja era a pedida dos homens mais abonados, como caminhoneiros ou caixeiros viajantes.
As doenças mais comuns contraídas no baixo meretrício eram sífilis, gonorréia, crista de galo e mula. Em 1930, por exemplo, os medicamentos mais utilizados eram Gonolina e Pandoragal, para gonorréia; Elixir de Carobinha Composto, Bismuto 14 e Garrafada Sertaneja, para sífilis; Sanguenol, para tuberculose; Tintura de Carapeba, para hepatite, além de Vinho Creosotado, Capivarol e Emulsão Scott para fraqueza. Como medidas preventivas, utilizava-se, além da camisa de Vênus, os medicamentos Profil e Anagalil.
Estabelecimentos Históricos
Com o transcorrer do tempo, os estabelecimentos e entidades que fizeram o alicerce para os atualmente existentes foram sendo fechados, após o desinteresse ou morte dos proprietários, mas a lembrança dos mais antigos registram:
Lojas, Armazéns e Mercados
• Farol do Povo: A primeira loja de tecidos e miudezas pertenceu a Antônio da Rocha Cavalcanti, localizada na Praça Constantino Gomes Ferreira, que depois fez sociedade com Pedro Silvério da Silva, tendo depois este falecido e sido passado o controle para Arlindo Cidrim.
• A Coroa Grande: Uma das mais tradicionais lojas, que teve como primeiro proprietário Marciano José dos Santos, passando depois a pertencer a Lourival Leitão de Verçosa e em seguida a Inaldo de Morais Acioli.
• Loja do João Manzi, um italiano que comercializava estivas em geral e também açúcar produzido no Engenho Pau Amarelo, de sua propriedade.
• A primeira padaria que se tem notícia funcionava na loja de João Manzi, depois foi vendida a Joana Zacarias de Verçosa. Registra-se também outra padaria, do Amaro de Morais Acioli.
• O primeiro ponto de vendas considerado como mercadinho foi o Popular, até hoje existente.
• Loja de tecidos do Sr. Antônio Vitoriano, localizada onde hoje se situa a Alameda do Francês e a loja do Lupércio Gomes, que depois passou a ser de João Ramos Rocha, que comercializava secos e molhados.
• O primeiro armazém de construção chamava-se Vera Nice, que depois passou a se denominar Coroa Grande Comercial, do Sr. Manoel Barros.
• Uma tradicional casa comercial era do Sr. Salvino César de Macedo, o Sinhozinho de Calú, que vendia secos e molhados.
Hospedarias, Bares e Restaurantes
• A primeira hospedaria chamava-se Lar Ana Luiza, que era a residência da família Gomes Ferreira, especializada em dar apoio às autoridades e visitantes ilustres da cidade.
• O primeiro hotel do município foi o do Francês, do Sr André Dahoui, que marcou época, em especial pelo restaurante de cozinha internacional.
• A primeira pousada foi a Pousada da Carolina, fundada pelo Dr. Miranda, depois vendida ao grupo do Hotel do Sol e agora transformada no São José Beach Flat.
• Acredita-se que primeira churrascaria foi a Guanabara, localizada no Posto São Benedito, hoje Restaurante Postal, palco de inúmeras festas de verão e de férias escolares.
• A primeira sorveteria foi do Zezinho, localizada na Praça Constantino Gomes.
• Outros restaurantes típicos que marcaram época foram o Restaurante do Odilon, que tinha sido cozinheiro do Dr. Estácio de Albuquerque Coimbra; o Restaurante do Pilão e o Restaurante do Zé Gueba, que funcionava na antiga casa de Júlio Belo.
• O primeiro bar foi o Castelinho Drink´s, depois Bar Castelinho, do Genival de Paula Couto, o Gino. Palco de inúmeros inícios e términos de namoros, brigas e beijos, bebedeiras e zoadas, que tanto perturbavam os trabalhos religiosos na Igreja Matriz e eram motivos de protestos dos padres.
Outros Estabelecimentos e Entidades
• Primeira bomba de combustível foi de Salvino César de Macedo, o Sinhozinho da Calú. Era manual e localizada na calçada do seu estabelecimento comercial. Depois foi instalada outra bomba, em frente onde hoje é a Delegacia de Polícia , pertencendo ao Gino.
• O primeiro posto de serviço foi instalado na margem da atual rodovia PE 060, sendo de propriedade de José Epifânio de Carvalho Neto
• Primeiro banheiro com chuveiro público foi instalado por João Constantino, junto ao prédio do grupo gerador de energia elétrica, ao lado da igreja. Até então os banhos eram tomados com a utilização de cuia, com água de cacimba.
• Eram times de futebol o Clube União e o Cinco Estrelas, tendo os campos da Boa Vista e Estádio Ringão como palco de disputas.
• O primeiro cinema foi do Adeildo Soares Ramos Rocha, localizado no lado oposto do Lar Ana Luiza, em direção a praia, atualmente demolido para dar lugar ao alargamento da rua Júlio Bello.
• O último cinema chamava-se Record II, que funcionou entre 1990 e 1995, em prédio localizado no pau-a-pique, com capacidade para 70 lugares, pertencente à família Sanguinetti.
Construções
Observa-se que o município não tem tradição nem política de preservação dos valores históricos e arquitetônicos, permitindo a demolição e reforma de edificações sem considerar que podem ser transformadas em inestimáveis pontos de atração turística e cultural.
Ressalta-se ainda que a abordagem feita neste tópico não tem qualquer conotação política ou pessoal, rogando-se a compreensão dos responsáveis e envolvidos, tanto quando das autoridades competentes em promover ações de preservações e revitalizações do patrimônio histórico e cultural do município. Tal condição de vulnerabilidade se deve inclusive à falta de um plano diretor ou lei de ocupação e uso do solo, merecendo uma urgente ação das autoridades, para evitar outras descaracterizações.
Merece destaque a forma construtiva das casas de taipa, que utilizam varas de mangue e barro, com cobertura em palhas de coqueiros, e as casas de alvenaria mais antigas, que utilizavam uma composição de cal, areia e barro como massa, denominada caliça.
Clubes
O mais tradicional clube do município era o Centro Recreativo e Cultural de São José da Coroa Grande, conhecido como Clube dos Veranistas, tendo sido fundado em 1955.
Localizado ao lado da prefeitura municipal, era freqüentado por sócios como Tonho Saboroso, Luiz Lacerda, Luiz Alves, Família Jatobá e Família Carlos Xavier, entre outros. Lamentavelmente a entidade encontra-se tomada por uma residência e garagem, tendo sido danificado o seu valor arquitetônico, merecendo das autoridades e responsáveis uma ação de reintegração e posse ou desapropriação, para que o imóvel seja restaurado e destinado à instalação de um centro cultural do município.
Outros clubes fazem parte da vida do município, tais como o Clube Municipal, hoje transformado parcialmente em escola, Bola de Ouro ( fundado em 24 de junho de 1949 ) e Bagaço, no distrito de em Várzea do Una, e o Clube Juventude, na vila de Abreu do Una, todos em precário estado de conservação, inclusive quanto à segurança e higiene.
Igreja Matriz
Na igreja Matriz consta o ano de 1889, que indicaria a data de construção, mas registros em Livro Tombo da Paróquia de Barreiros mostram que em 15 de janeiro de 1838, na Capela de São José da Coroa Grande foi realizado o matrimônio de Antônio Ferreira dos Santos, filho legítimo de João Vidal de Negreiros e Francisca Maria da Conceição, comprovando a existência de uma capela já naquele ano. Ou seja, não se pode afirmar que 1889 tenha sido o ano de construção da Igreja Matriz, sendo mais provável o ano de conclusão de uma das reformas.
Conforme os católicos com mais idade, a igreja foi reformada inicialmente por Cassiano Monteiro, quando foi construída a primeira torre. A última reforma foi realizada por iniciativa e patronato de Júlio Belo, por volta de 1930, tendo sido arquiteto Clóvis de Barros Lima.
Vale registra que, quando de escavações nas imediações da Igreja Matriz, foram encontradas ossadas que, segundo os moradores mais antigos, são provenientes de um antigo cemitério outrora ali localizado.
Lar Ana Luiza
Lar Ana Luiza, primeiro hotel de São José da Coroa Grande, localizado onde se encontra hoje o prédio.
A construção de um edifício, no lugar onde foi a casa de Constantino Gomes Ferreira, na praça do mesmo nome, ponto central da sede do município de São José da Coroa Grande, sem discutir a beleza arquitetônica e benefícios advindos deste empreendimento, quebrou a forma bucólica e descaracterizou a arquitetura da região central da cidade.
Câmara Municipal
A reforma executada na Câmara Municipal de São José da Coroa Grande, no ano de 2002, merecedora de elogios pela funcionabilidade e conforto, descaracterizou radicalmente a antiga construção, de imenso valor histórico e arquitetônico, pois lá havia sido instalado o primeiro posto de saúde do município, representando uma perda irreparável para a história e cultura do município.
Engenhos
Os engenhos existentes estão, na sua maioria, em fase de desmembramento e subordinados à administração do INCRA. Tal condição põe em risco as construções que restaram da época da cana-de-açúcar, merecendo urgentes e enérgicas ações junto aos órgãos responsáveis, para que sejam preservadas, evitando demolições e reformas.
• No Engenho Tentugal ainda podem ser vistas a estação, a casa do mestre de linha, ruínas de uma ponte ferroviária, da estrutura da caixa d´água e da casa do gerente de campo, além de barracão e casa de administração.
• No Engenho Arassú podem ser observadas as ruínas de uma capela e casa de administrador
• No Engenho Campinas podem ser vistos um barracão e as ruínas de um sobrado
• No Engenho Morim podem ser vistas as casa grande, estribaria, casas de moradores e as ruínas da capela.
Política
A história política do Município de São José da Coroa Grande teve início desde a época em que era distrito de Barreiros, quando eram eleitos os sub-prefeitos.
Sub-prefeitura
Até o ano da emancipação política, São José da Coroa Grande era distrito de Barreiros, tendo uma sub-prefeitura.
Em 26 de outubro de 1947 foi eleito como prefeito de Barreiros José Canuto Santiago Ramos, tendo Manuel Florentino de Albuquerque como sub-prefeito do 20 distrito de Puirassú.
Em 1951 foi eleito como prefeito de Barreiros Jaime Sampaio de Vasconcelos, com 1552 votos, tendo como vice-prefeito João Ramos Rocha, com 1529 votos, e sub-prefeito de Puirassú João Francisco de Melo, com 393 votos.
Em 1955 foi eleito prefeito de Barreiros Miguel Mendonça de Melo, com 1892 votos, tendo como vice-prefeito Domingos Lopes Correia de Araújo, com 1907 votos, e como sub-prefeito do 30 distrito de Puirassú Manuel Florentino de Albuquerque, com 302 votos.
Em 1959 foi eleito como prefeito de Barreiros Clóvis Camboin Tenório, tendo como vice-prefeito Manoel Florentino Albuquerque e como sub-prefeito do 30 distrito de Puirassú José Maria de Albuquerque Belo, com 442 votos.
Primeira Eleição
A primeira eleição para a prefeitura de São José da Coroa Grande foi realizada em 07 de outubro de 1962, sendo presidida pelo Dr. Juiz Carlos Xavier Paes Barreto Sobrinho, tendo como membros da mesa apuradora Dalvino Wanderley Belo e Marinita Zacarias de Verçosa.
Para um total de 1.095 eleitores, compareceram às urnas 769, representando um percentual de abstenção de 29,77%, tendo sido eleito para prefeito o representante do PST Bráulio da Rocha Cavalcanti, com 562 votos, registrando-se ainda 186 votos em branco e 21 votos nulos.
Recadastramento Eleitoral
Um fato curioso e que merece registro foi o recadastramento eleitoral obrigatório no ano de 2003, em virtude da constatação de que, para uma população estimada que 15.000 habitantes havia 11.247 eleitores, significando um percentual bastante acima do previsível e aceitável, considerando a população de não eleitores menores de 16 anos.
Como resultado, o total de eleitores foi reduzido para 7.644, deixando a suspeita que muitos eleitores mantinham seu domicílio eleitoral em São José da Coroa Grande sem que estivessem residindo no município.
Entretanto no dia 03 de outubro de 2004, estavam aptos para votarem 9.215 eleitores, distribuídos em 34 zonas eleitorais e oito locais de votação.
Agitações Políticas
Na administração do prefeito Ciro Telles, em 1984, foi cometido uma tentativa de assassinato de Carlos Alberto Maranhão, então presidente da Câmara de Vereadores, tendo o mesmo ficado paraplégico. Como resultado, somente no ano de 2003 a sentença foi publicada, significando uma pena de 10 anos de reclusão para referido prefeito. Também na mesma administração o então prefeito teve seus direitos cassados, tendo retornado à posição através de apelação judicial.
A administração do prefeito Lívio de Oliveira Tenório acabou com o seu assassinato, em 10 de abril de 1994, tendo como mandante o então vice-prefeito Fernando José. Tal fato causou um grande comoção e tumulto na cidade, resultando na completa depredação da casa do vice-prefeito e também sérios problemas quanto à sucessão, envolvendo vereadores e interventores nomeados pelo governo estadual.
Observam os antigos que na época da revolução de 1964 o então juiz de direito de Barreiros, Dr. João Batista, se refugiou e o delegado foi demitido, por simpatizarem ou protegerem pessoas compromissadas com as causas populares.
Festejos
Festa de São José
A festa do padroeiro da cidade é um evento de grande tradição e teve no ano de 1993 uma das maiores comemorações, conforme descrição em convite, merecendo destaque as pregações realizadas pelos párocos de Gameleira, Sirinhaém, Rio Formoso, Água Preta, Barreiros, Cabo de Santo Agostinho e Palmares, além de Dom Marcelo Carvalheira.
A missa de encerramento foi celebrada por Dom Acácio Rodrigues Alves, bispo de Palmares, e Dom Helder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife, observando-se ainda que as festividades comemoravam o jubileu de prata de Dom Elizeu Gomes de Oliveira, quando na ocasião desempenhava as funções de pároco de São José da Coroa Grande.
Apresentações do Balé Popular do Recife, do Grupo de Teatro São José e da Banda Shessman marcaram o evento, que teve como presidente o então prefeito Lívio de Oliveira Tenório, como tesoureiro Francisco Canindé Cavalcanti, como juíza do andor Vicentina e Antônia Ribeiro e como juíza da bandeira para 1994 Marinita Verçosa de Vasconcelos.
Carnavalescos
O carnaval era comemorado em clima de paz e harmonia, onde o respeito às pessoas era ponto de honra, tendo como tradição blocos que desfilavam nas ruas, tais como:
• Bandeira Branca: Organizado por Dona Moldávia Aguiar; que tinha como porta-estandartes Ivana Volga, Vilma Karina e Silvana
• Coroa Grande: Formado pelas famílias Bello, Freiatas, Rocha, Leão e Aguiar, desfilava com carros alegóricos;
• Estrela da Tarde: Fundado em 1965 por Antônio Alexandre de Almeida, contando com alas de pastoras, em estilo rancho, que tinha como mestras Rosalina e Tereza e como porta bandeira Maria de Almeida;
• Navegantes e Belas Rosas: Organizado por Amaro Bento, tinha como alegoria uma barcaça, sobre rodas, empurrada por barcaceiros e pescadores;
• Das Ciganas: Onde mulheres desfilavam trajadas de ciganas ao som de sanfonas;
• Qitandeiras: No bloco as mulheres desfilavam com tabuleiros na cabeça cheios de frutas, que eram distribuídas com as pessoas;
• Cinco Diabos: Era formado por barcaceiros de Abreu do Una, dos quais cinco vestidos de diabos, tendo acompanhamento de orquestra da cidade de Barreiros A sede era localizada vizinha à residência Gomes Fereira, tendo como organizadores Zé da Véia, João Verdadeiro e como porta bandeira a jovem Zuleide Alves.
• Pavão Misterioso: Um maracatu organizado por Carlinhos, Zezinho e Zé Gueba, entre outros, que tinha como atração as fantasias e os travestis;
• Bola Azul: Organizado por Amaro Marcelo, contava com carro alegórico;
• Bumba-meu-boi: Fundado em 1975, por José Antônio do Nascimento, o Zé Miau, era o mais tradicional da região.
Juninos
O período junino era marcado por quadrilhas matutas realizadas na praça Constantino Gomes Ferreira. Após a meia noite, era servido licor aos participantes, que depois se dirigiam para tomar banho no Rio Persinunga, em grupos devidamente separados de homens e mulheres, demonstrando a harmonia e cordialidade.
Natalinos
Os festejos natalinos eram marcados por barracas de prendas armadas na praça Constantino Gomes Ferreira, pela apresentação de pastoris e pela missa realizada às quatro da manhã.
Iemanjá
Os festejos em homenagem a Iemanjá tinham grande significativo, cabendo aos donos de terreiros promover procissões e oferendas.
Contam os mais antigos, que presenciaram tais eventos que, em uma das procissões, “Pai Déio”, deficiente de um dos membros inferiores, tombou e deixou cair o andor que carregava, espatifando a santa no chão, causando grande comoção.
Outras Lembranças
Serviços de Saúde
O primeiro posto médico foi instalado no local onde atualmente funciona a Câmara Municipal, na gestão do prefeito de Barreiros José Canuto Santiago Ramos, tendo como sub-prefeito de São José da Coroa Grande João Ramos Rocha.
Foram muitos os médicos que desempenharam com maestria sua função, dentre os quais o Dr. Gouveia de Barros, quando da epidemia de varíola na primeira década de 1900, Dr. Osmário Omena de Oliveira, conhecido pela competência e forma atenciosa de atender, e também o Dr. Arsênio Costa.
Em Várzea do Una
Marcaram a história de Várzea do Una a fundação do Clube Bagaço, por volta de 1965, construído pela turma do dendê, tendo à frente Oscar Carneiro, um senhor que tomava conta da capela, e como administrador Amaro Lopes.
Clube Bola de Ouro foi fundado em 24 de junho de 1949, com o nome de Sociedade Carnavalesca e Recreativa Clube Bola de Ouro, por moradores da vila, dentre os quais Olavo Milton, Sebastião Belmiro da Silva, Manoel Francisco Chagas e Gumersino, conhecido como Gato Branco, um pescador muito culto sobre as coisas do mundo, como contam os antigos moradores. Registros mostram que em outubro de 1949 era presidente Sebastião Belmiro da Silva e que foram emitidas 500 ações numeradas, no valor de Cr$ 10,00.
A primeira televisão que se tem notícia era em preto e branco, tendo sido adquirida em 1970 por Sebastião Belmiro, um marítimo aposentado como ex-combatente.
A energia elétrica foi instalada em 1967, quando da prefeitura de João Francisco de Melo;
O primeiro colégio foi fundado em 1949, na administração do prefeito José Canuto, assim como o cemitério, em 1950
A estrada para várzea foi inaugurada entre 1948 e 1949, no dia do lançamento da pedra fundamental do cemitério São Sebastião.
Em 1943 a vila tinha cerca de 60 moradores e dez casas de alvenaria, sendo a família Cardoso a mais abonada. Neste mesmo ano acontece a morte do administrador Manuel Candeia e a posse do sítio por Amaro Lemos.
Registram-se ainda as mercearias de Antônio Ricarte, João Grilo e Antônio Cardoso.
A primeira professora chamava-se Maria Xixi, filha de dona Indulinda, que ensinava em casa aos filhos de pescadores.
Em Abreu do Una
A primeira televisão era em preto e branco, sendo instalada na parede da capela de São João.
O primeiro clube foi o Carimbo, do Sr. Odilon, fundado na década de 1940. Depois foi construído o Clube Juventude, do Antônio Arruda, na década de 1960.
Na praia do Gravatá, quando do grande movimento de embarque do açúcar, havia uma vila com cerca de 150 casas, um armazém de coco com 200 m2 e mais dois armazéns de açúcar, cada um com 1.800 m2, sendo um deles utilizado para depósito de cal e adubo. Com a desativação do porto, em fins da década de 1970, as famílias foram desalojadas e transferidas para outro local e as construções demolidas.
Fonte: museu do una
Atualizado por: Blog Tenório Cavalcanti