São denominados engenhos as propriedades rurais destinadas ao cultivo da cana-de-açúcar e fabricação do açúcar, sendo constituídas basicamente por quatro construções: casa grande, localizada na parte mais alta e onde morava a família do senhor de engenho; capela, onde eram feitos os cultos católicos; fábrica, também chamada de moita, onde era instalada a moenda, moída a cana, extraído e cozinhado o caldo e branqueado o açúcar, e a senzala, onde habitavam os escravos.
Atualmente são conhecidos como engenhos as propriedades dedicadas ao cultivo da cana-de-açúcar, podendo também manter outras culturas, sem necessariamente cuidar do processamento do açúcar.
História dos Engenhos
Os engenhos tipo “bangüê” eram movidos a tração humana, animal ( engenho trapiche ) ou rodas-d´água ( engenho real ) e produziam açúcar mascavo ( demerara ), que depois era submetido a um processo de alvejamento utilizando argila, destinado à exportação. Os engenhos que produziam rapadura para ser vendida no mercado interno eram denominados de engenhocas.
Era comum o ditado que para se ter um bom engenho, eram necessárias, em ordem de importância: boas terras, para plantio; água para acionar moendas; matas próximas, para suprimento de lenha; 50 peças de bons escravos, para limpeza de área e plantio da cana-de-açúcar e 50 juntas de bois, para transporte da cana-de-açúcar.
Registros indicam que de 1842 a 1852 foram instalados 137 engenhos em Pernambuco, tendo como novidades as tecnologias em cozimento e as centrífugas, desenvolvidas por Alfredo e Eduardo Mornay. Em 1852 foram substituídas as caixas de madeira pelos sacos de pano para o transporte do açúcar.
Em Pernambuco, por volta de 1870 – 1890 apareceram as usinas, em substituição aos engenhos e meio aparelhos, buscando fazer frente ao mercado europeu, que explorava a cultura da beterraba e da cana-de-açúcar das Antilhas e Cuba, então colônia espanhola. Observa-se que de 1874 a 1884 foram implantadas seis usinas, sendo a primeira delas a de São Francisco da Várzea, em 1875.
A partir de então os engenhos deram lugar às usinas, que utilizavam o poder econômico para barganharem preços de fornecimento, chegando muitas a adquirirem e fecharem as fábricas dos engenhos, ficando com a posse das terras para o cultivo da cana-de-açúcar.
Lamentavelmente a maioria das casas de senhores de engenho foram demolidas, para darem lugar às plantações de cana-de-açúcar ou evitar invasões quando desocupadas, Quanto às fábricas, foram desmontadas e sucateadas.
Engenhos de São José da Coroa Grande
O município é formado pelos engenhos Pau Amarelo, Boa Vista, Gindhy, Boca da Mata, Campinas, Mundo Novo, Arassú, Serra d´Água, Queimadas, Manguinhos, Brejão, Morim e Tentugal, merecendo estes dois últimos menções à parte, dada a importância histórica e também ambiental, como o caso do Engenho Morim. Ressalta-se que somente os engenhos Morim, Brejão e Manguinhos ( Fazenda Manguinhos ), estão em mãos de particulares, sendo os demais transformados em assentamentos administrados pelo INCRA, aguardando demarcação e desmembramento de terras. Merece registro ainda a Fazenda São Francisco, situada entre os engenhos Queimadas, Arassú e Morim, com 280 ha, que também é uma propriedade particular.
Ao visitar os engenhos, conversando com seus proprietários, arrendatários, posseiros, assentados e demais habitantes, buscando observar e entender as condições de vida, é possível estimar e até quantificar quão lastimável é a situação por que passam, principalmente comparando com tempos atrás, não muito longe, visto que, quando da efervescência da indústria açucareira, os engenhos se constituíam em pontos de riqueza, sendo os senhores dotados de grande prestígio.
Os engenhos atualmente podem ser comparados a aldeias quase esquecidas, sendo que alguns se encontram em estado de abandono e até tendo seu nome original modificado, como é o caso do Engenho Serra D´Água, com a nova denominação de Assentamento Nova Esperança, como se fosse para esquecer o passado. Observa-se ainda que os engenhos agora são denominados de assentamentos, sob a coordenação de movimentos sociais como o MST, MTL e MTB, que por não trabalharem de uma forma unida e em sinergia, não somam forças para minorar os problemas que são comuns.
Para alguns habitantes incluídos na lista do INCRA, que estão aprisionados à terra que por direito ainda não é sua, pois mesmo desapropriadas ainda não foram desmembradas, restam esperanças, se não de desenvolvimento, pelo menos de uma melhor condição de vida, mas para outros, que não estão na referida lista por algum motivo, não existem alternativas, a não ser que haja uma abrangente política social e estruturadora, mas isso não alimentam seus sonhos, pois se trata de uma utopia.
Merece ressaltar ainda que, pela condição cultural de grande parte dos assentados, que até então eram colonos acostumados apenas a cumprir tarefas, sem visão de agricultores ou pecuaristas, existe uma tendência de que, mesmo depois de feito o desmembramento, as terras não sejam cultivadas adequadamente, servindo à finalidade de terras produtivas almejadas por tais movimentos sociais, e até repassadas a terceiros, mesmo de forma irregular.
As estradas que interligam os engenhos e fazem conexão com a rodovia PE 060 são carroçáveis, entre canaviais, coqueirais e matas, encontrando-se sempre em péssimas condições de tráfego que, com raras exceções, não oferecem sequer condições de acesso nos períodos chuvosos, impossibilitando os deslocamentos em veículos motorizados convencionais. Tal condição faz com que os habitantes tenham que se deslocar à pé ou utilizando bicicleta ou cavalo, significando uma condição lastimável, principalmente para os mais idosos e os que necessitam de acesso aos serviços de saúde e mercados ou feiras.
Para se ter uma idéia da forma precária de sobrevivência, na maioria dos engenhos somente em 1998 foi instalada a luz elétrica e ainda em 2003 a maioria das casas não possui sanitários adequados e outras sequer tinham fossa ou bacia sanitária.
Os desafios inerentes às péssimas condições de vida são agravados pela cultura da prole sem controle, fazendo com que não seja raro encontrar famílias com mais de quinze membros morando em uma casa com dois quartos e mães de famílias com pouca idade e pelo menos 12 filhos. Um misto de ignorância, medo e preconceito faz com que se possa encontrar uma mulher de 40 anos com 18 filhos ainda com condições de procriação.
Há também de se lamentar que, exceto a casa grande do Engenho Morim, que se encontra em bom estado de conservação, e a do Engenho Campinas, transformada em um verdadeiro pardieiro, em completo estado de abandono e ocupada por assentados, todas as demais foram demolidas, representando um crime contra o patrimônio histórico e cultural.
Senhores de Engenhos
Na região de São José da Coroa Grande, antes da Usina Central Barreiros adquirir quase todos os engenhos, registros indicam que eram senhores de engenhos: Júlio Celso de Albuquerque Bello, do Engenho Queimadas; Sinhô, do Engenho Tentugal; Sinhazinha Dondon ( esposa de Estácio de Albuquerque Coimbra ), do Engenho Manguinhos; Antônio da Rocha de Holanda Cavalcanti, o Barão de Gindahy, do Engenho Gindahy; Cel Francisco Ferrão Castelo Branco e depois Estácio de Albuquerque Coimbra que casou com sua filha mais velha Joana, do Engenho Morim; Dr. Silvestre da Rocha Wanderley do Engenho Arassú; Alice Belo, do Engenho Brejão, João Manzi, do Engenho Pau Amarelo
Registra a história, contada pelos mais velhos, que Gilberto Freyre, secretário particular de Estácio de Albuquerque Coimbra, muito se inspirou nos engenhos Morim, Tentugal e Queimadas, para escrever parte do livro Casa Grande & Senzala, tendo o sociólogo escrito o prefácio do livro “Nordeste” no Engenho Queimadas em 1936, conforme consta na 2a edição, da Livraria José Olympio Editora – 1951.
Engenho Serra d´Água
O engenho, que está localizado a cerca de 6 km da PE 060, tendo como coordenadas geográficas do arruado 080 51´26” S e 0350 11´45”W.
Conta com 49 casas cadastradas, onde moram cerca de 230 adultos e 240 crianças e está cortado pelo Riacho Meireles, de onde se tirava água para lavar, cozinhar e até beber, sendo também o local onde muitos habitantes, em especial as crianças tomam banho.
Trata-se de uma comunidade pobre, sem qualquer estrutura de apoio, onde somente no ano de 1998 ocorreu a instalação de luz elétrica.
Uma escola atende às crianças e uma agente de saúde, que também é agente comunitária e parteira cuida dos primeiros socorros.
O lixo gerado é disposto a céu aberto e em local indefinido, representando um risco à população local quanto à proliferação de pragas.
Engenho Queimadas
O engenho está localizado a cerca de 3 km da PE 060, tendo como coordenadas geográficas do arruado 080 53´11”S e 0350 10´29”.
Um arruado com pouco mais de 10 casas, uma igreja e algumas construções é o que restou de um dos mais famosos engenhos da região, onde havia a casa grande do senhor Júlio Belo, considerada uma das mais belas casas de engenho do Estado de Pernambuco, tendo sido demolida para dar lugar às plantações de cana-de-açúcar.
Engenho Arassú
O engenho, que tem a grafia com “ss”, em concordância com documentos da então Freguizia de São Miguel de Barreiros, está localizado a cerca de 6 km da PE 060, tendo como coordenadas geográficas do arruado 080 53´14”S e 0350 12´12” W.
Em grande parte da região do engenho, que conta com 38 famílias, os moradores cultivam a terra e criam gado e outros animais, ressaltando-se que somente em 1998 foi instalada a luz elétrica, sendo a água é oriunda de cacimba.
No centro do arruado existia uma elevação onde está localizada as ruínas da capela de Nossa Senhora da Saúde, pelos levantamentos feitos.
A famosa “BICA DE ARASSÚ” veio deixar o engenho bem atrativo, visitantes de diversas regiões do Estado, País e até visitantes do Exterior já vieram se divertir no turismo rural.
ASSISTA NOSSO PASSEIO NA BICA:
Engenho Manguinhos
Está situado a cerca de 1 Km da PE 060, tendo como coordenadas geográficas do arruado 080 52´37”S e 0350 09´13”W.
É composto por dois arruados, distantes entre si de aproximadamente 500 metros, onde estão localizadas cerca de 20 casas, todas construídas de forma geminadas. Um barracão desativado, mas em bom estado de conservação, representa a época do transporte de açúcar por locomotivas com destino ao porto da Praia do Gravatá.
Trata-se de uma propriedade privada com 1.600 hectares onde se cria búfalos e estão plantados 58.000 pés de coco, tendo ainda uma produção de 24.000 toneladas de cana / ano.
Hoje Manguinhos existe, só não é engenho, Manguinhos está todo loteado para vendas de terrenos, a maioria dos moradores do arruado migraram para o bairro Cajueiro, algumas casa já estão sendo construidas , a igreja antiga da Assembleia de Deus foi demolida, mas foi construída outra poucos metros e mudou a posição da frente da igreja para o outro lado do loteamento. O famoso bar do Bigode(Nado) oferece as melhores comidas tipicas da região e o seus pratos principais são: mão de vaca,sarapatel e caldnhos.
Engenho Campinas
O engenho está localizado a cerca de 20 km da PE 060 e tem como coordenadas geográficas do arruado 080 51´31” S e 0350 13´50”W. Uma alternativa para acesso é através da cidade de Barreiros.
Um sobrado em ruínas, onde era morada de Dr. João Coimbra, um dos herdeiros de Estácio Coimbra, encontra-se em deplorável estado de conservação e ocupado por várias famílias.
Conforme o representante dos assentados, o engenho é composto de 65 famílias, com cerca de 190 habitantes, contando com escola, luz elétrica, uma casa de farinha construída em 2003 e um barracão.
Engenho Boa Vista
O engenho, que conta com 16 casas, está localizado a cerca de 14 km da PE 060, tendo como coordenadas geográficas do arruado 080 52´39”S e 0350 14´43” W.
Dos engenhos que fazem parte do município de São José da Coroa Grande talvez seja o que apresentava piores condições de vida para seus habitantes, não tendo escola, luz elétrica ou qualquer forma de assistência médica, fato agravado pelas péssimas condições de acesso, tornando-se quase inacessível quando em períodos chuvosos.
Dona Maria José da Silva, moradora desde 1950, é uma das quatro habitantes que tem renda fixa, oriunda de aposentadoria. Os demais moradores não tinham renda e alegavam ser impedidos de plantar ou criar pelos rendeiros do engenho.
Engenho Boca da Mata
O engenho, que está localizado a cerca de 19 km da PE 060, conta com cerca de 20 casas, sendo a metade construída de forma geminada.
Engenho Pau Amarelo
O engenho Pau Amarelo está situado na extremidade oeste do município de São José da Coroa Grande, a cerca de 24 km da PE 060, sendo o arruado localizado em terras no estado de Alagoas, ficando em Pernambuco apenas algumas casas e a escola municipal.
Engenho Brejão
Também conhecido como Queimadas de Cima, o engenho está situado a cerca de 4 km da PE 060, sendo uma propriedade privada da família João Francisco de Melo, com 280 hectares e 20 casas, onde além da criação de gado e ovelha são plantados 7.000 pés de coco.
Outros Engenhos
No município de São José da Coroa Grande estão localizados engenhos que dividem suas terras com os municípios de Maragogi ( AL ) e Barreiros ( PE ), à exemplo dos engenhos Pau Amarelo e Buenos Aires.
O Engenho Buenos Aires, de 1.279 ha, foi arrematado da massa falida da Usina Central Barreiros, em 2000, por Celso Sarmento e Rodrigo Omena, dele fazendo parte o Engenho Boa Vista.
Merecem registros ainda os engenhos Mundo Novo e Gindahy ( grafia com “hy” ), que estão localizados a cerca de 9km e 20km da PE 060, respectivamente, sendo ambos compostos por casas soltas.
Fazenda São Francisco
A Fazenda São Francisco é uma propriedade privada pertencente a José Rinaldo Pimentel, com 280 ha, adquirida de Mamede Martins da Silva Filho em 1998, limitando-se com os engenhos Queimadas, Arassú, Tentugal, Serra d´Água e Morim.
A fazenda possuía 580 ha quando foi adquirida pela Usina Central Barreiros em dezembro de 1945, tendo depois 200 ha desapropriados pelo INCRA.
ENGENHO TENTUGAL
Neste dia 17 de agosto 2020 atualizamos mais informações, o engenho Tentugal hoje é quase o mais novo distrito do município, conta com uma escola municipal Livio Tenório, uma quadra poliesportiva e a via principal foi pavimentada na gestão do Prefeito Pel Lages em Julho de 2017.
ASSISTA O VÍDEO:
FONTE: MUSEU DO UNA
ATUALIZAÇÃO: TENÓRIO CAVALCANTI