Por quase toda a minha infância fui impressionado com tantas lendas e contos, as famosas “histórias de trancoso”.
Uma delas em especial me causa ainda hoje um certo fascínio, por se tratar de uma lenda peculiar do litoral pernambucano.
A lenda do João Galafoice me despertou curiosidade a ponto de questionar alguns antigos moradores e pescadores do nosso município de São José da Coroa Grande-PE. Indo mais além a pesquisar em alguns sites específicos do assunto assombração, como é o caso do orecifeassombrado.com.br, onde encontrei informações ademais e ao qual também devo os créditos desse artigo relacionado ao personagem supracitado.
Na antiga vila que surgiu a partir do porto na praia do Gravatá em São José da Coroa Grande-PE, litoral sul de Pernambuco, a visagem de uma labareda de fogo sobresaindo-se as ondas ou corais era logo reconhecido como o João Galafoice, uma entidade sobrenatural ao qual seria um prenúncio de temporais ou tempestade, o pescador em seu conhecimento empírico sabia que teria que ir a praia para amarrar as embarcações e prender com mais força as palhas que cobriam suas casas, pois as ondas do mar revoltoso e os ventos fortes seriam um problema nas próximas horas.
Na escuridão da noite, o pescador pernambucano cumpre o ofício com cuidado e dedicação. Um medo, porém, o acompanha: a qualquer momento poderá emergir do mar um halo de fogo azulado que brilhará pelos rochedos e correrá nas ondas clareando as espumas. Não são poucas as vezes em que a sinistra aparição prenuncia tormentas e mortes: contam-se casos de afogamento depois que a entidade luminosa foi vista naquele pedaço do litoral.
Chamam a assombração de João Galafuz e dizem que teria sido um caboclo morto no mar antes de batizado. A visão daquele espectro é indício de desastre e tragédia porque ele mesmo carrega um fado, uma maldição. Ao brasileiríssimo nome João uniu-se o africanismo Galafuz para representar o fogo-fátuo.
O historiador e folclorista Francisco Pereira da Costa, nascido no século 19, já descrevia o João Galafuz em seu “Vocabulário Pernambucano”. Seria uma espécie de duende que emergia das ondas, surgindo das pedras submersas como um facho luminoso e multicor, prenúncio de tempestades e naufrágios. Pereira da Costa afirmava que a crença era dominante entre pescadores e homens do mar do norte do Estado, principalmente de Itamaracá. Mas que até nas praias de Sergipe teria sido visto, só que lá o haviam apelidado de “Jean de la foice”.
Já o conhecido pesquisador e folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo nos conta em sua “Geografia dos Mitos Brasileiros” que a assombração também é conhecida pelas bandas das Alagoas, desta vez com o nome de João Galafaice ou Galafoice, sendo associada à lenda a ideia de um preto velho raptor de crianças.
Até na música pop, o estranho ser apareceu: a banda pernambucana Nação Zumbi lançou uma música de mesmo nome no disco Rádio S.Amb.A. em 2000. A letra fala de alguém cuja jangada voará e vai “morar depois do mar”. Será que a pessoa quer se transformar em fantasma?
O fato é que ainda hoje pescadores mais velhos do nosso litoral tentam se prevenir com amuletos e rezas contra esse macabro duende também visto por veranistas e visitantes que se arriscam a entrar no mar durante a noite. Testemunhas falam de uma espécie de bola de fogo que flutua na escuridão entre os arrecifes, nas ondas ou até por cima da areia. Não são poucos os turistas que ficam apavorados por causa do João Galafuz.
Há muito tempo ouve-se falar que, nas praias da Ilha de Itamaracá, no litoral norte de Pernambuco, ocorrem coisas estranhas ao anoitecer. Várias pessoas que moram lá afirmam ter visto o “Galfoice”, uma espécie de bola de fogo, assombração que vaga entre os arrecifes, as ondas e a faixa de areia quando cai a escuridão. Segundo contam, é a alma de um pescador que atendia pelo apelido de João Galafoice, e que desapareceu no mar em meio a um temporal, entre Itamaracá e Goiana.
Até então, eu nunca tinha levado a sério essa história. Mas, certa noite, alguns veranistas que estavam numa casa em frente à minha, chegaram da praia gritando e chorando muito. Estavam quase em estado de choque e afirmaram ter sido perseguidos por “uma grande bola de fogo que saiu de dentro do mar”. Pensei que poderiam estar querendo nos pregar uma peça, mas foi preciso até dar calmante a uma moça que estava com o grupo. No dia seguinte, fui conversar com eles. Notei que ainda estavam se refazendo do grande susto. Perguntei se já tinham ouvido falar do Gala-foice, mas afirmaram que não!
Você pode até pensar que essa história é mentira. Contudo, se estiver passeando à noite nas praias de Itamaracá e notar uma grande bola de fogo flutuando junto à água do mar, pode estar vendo algum candeeiro de um barco de pesca ou… o Gala-foice! Neste caso, reze para não ser ele: dizem que quem é apanhado pela assombração vai parar num túmulo no fundo do mar.
Por
– Saulo Gomes Ferreira (professor/guia de turismo/gestor ambiental)
Referência
– www.orecifessombrado.com.br