A luta dos professores e professoras de espanhol ganhou mais uma etapa na manhã desta quarta-feira (14), na audiência pública da Comissão de Educação e Cultura que lotou o auditório da Assembleia Legislativa de Pernambuco.
A reunião discutiu a revogação da Portaria nº 910/2018, do Governo do Estado, que estabelece a oferta dessa disciplina no formato de eletiva nas escolas. A maioria das instituições presentes na mesa de debates posicionou-se pela imediata revogação da portaria.
O Sintepe (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco) apoia esta luta e incluiu o assunto da Pauta de Reivindicações que será discutida com a Secretaria de Educação no dia 21 de março próximo.
A norma, entre outras mudanças, suprimiu a oferta obrigatória da Língua Espanhola no Ensino Médio e determinou que os currículos incluirão, obrigatoriamente, o estudo do Inglês e “poderão ofertar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o Espanhol”.
“Não é só a retirada de uma língua de uma grade curricular. A gente não pode perder de vista o que está acontecendo no Brasil com essa Reforma do Ensino Médio empurrada de goela abaixo “, disse Lúcia de Oliveira, diretora de Assuntos Educacionais do Sintepe e representante do Sindicato na mesa de debates.
O presidente do Conselho Estadual de Educação, professor Ricardo Chaves, representantes das universidades Federal, Federal Rural e Estadual de Pernambuco (respectivamente UFPE, UFRPE e UPE), além da associação de professores da língua e da representação estudantil, posicionaram-se contrários à portaria e solicitaram ao governo sua revogação.
Chaves assinalou que o Conselho começou a discutir o tema na última segunda (12). De acordo com ele, embora ainda não haja pronunciamento oficial, a tendência é de que, na próxima reunião, haja um posicionamento favorável à obrigatoriedade da língua espanhola.
A presidenta da Comissão de Educação, deputada Teresa Leitão (PT), questionou a implantação da medida em Pernambuco no período do recesso escolar, sem discussão com a sociedade. “Após a ocupação das escolas pelos estudantes, em 2016, foi feito um acordo que garante a participação deles na reforma do Ensino Médio aqui no Estado”, frisou a parlamentar.
Ela lembrou, ainda, que o programa estadual Ganhe o Mundo tem enviado alunos para intercâmbio em países de língua espanhola, a exemplo do Chile. A estudante Lívia Maiara Laurentino, da Escola de Referência em Ensino Médio Nóbrega, reforçou que cerca de 70% do candidatos escolhem o Espanhol como idioma estrangeiro no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
“Sem desvalorizar a língua inglesa, há pessoas que têm mais afinidade com o espanhol. A gente tem direito ao conhecimento. Estamos do lado dos professores e de outras pessoas que possam ser atingidas pela mudança”, expressou.
Já o diretor de comunicação do Sintepe, Dilson Marques, lembrou que a luta dos jovens deu uma “aula de cidadania” no plenário do Poder Legislativo. “Parabenizo esses jovens aqui, defendendo seus interesses, nesse processo de formação e de cidadania que é a razão de ser da escola.
Lutando pela língua que eles escolheram para estudar, aprender e participar da disputa de vagas”, disse. Presidente da Associação dos Professores de Espanhol de Pernambuco (APPE), Juan Pablo Martín avaliou que a medida gera mais disparidade entre os alunos das redes pública e particular.
Para o coordenador-geral de Graduação da Universidade de Pernambuco (UPE), Karl de Souza Leão, a mudança acentua o isolamento do Brasil em relação à América Latina. Cristina Corral, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pontuou que a nova determinação pode limitar a visão de mundo à cultura dos Estados Unidos.
Já Flávia Conceição Ferreira, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), disse que a portaria está em desacordo com a própria norma federal, que considera a língua espanhola optativa, portanto integrante da matriz curricular, e não eletiva.
FONTE: GIRO MATA NORTE