POR BRUNO OLIVEIRA…
Há um discurso do senso comum que tenta passar a ideia que nós professores somos heróis, que nascemos destinados a atividade docente, que por debaixo de nossas roupas comuns, há uma fantasia carnavalesca de um super-heróis. Esse discurso não é benéfico para nossa classe, é um discurso que de forma silenciosa municia nossos algozes a continuar nos explorando, ao passo que olham para nós e dizem que nos amam; municia um discurso também masoquista de alguns professores que gostam de sofrer, que se acham destinados a vida sofrida e desigual de fabricadores de uma massa silenciosa, oprimida e passiva.
15 de outubro, dia dos professores, um dia no qual deveríamos ter a coragem de nos colocar como protagonistas, e não ficar afirmando e enchendo a caixa de mensagens das redes sociais com imagens pré-formatadas de “Feliz Dias dos Professores”, não há maior atestado de mediocridade que a essa febre de memes que alavancam a mediocridade de alguns.
Qual o porquê de tantas homenagens?
Por ficarmos um dia completo falando em uma sala de aula e por estarmos cansados de tanto falar sem ser ouvidos pelos alunos? Por nas horas vagas debruçarmos nos cadernos antigos para reescrever atividades para a próxima semana? Por ainda este ano não termos lido nenhum livro, e nosso aparato teórico estar fundamentado numa velha apostila da faculdade que já faz alguns anos que concluímos? Por termos ingressados num curso de especialização, mestrado ou doutorado, com olhos voltados unicamente numa progressão financeira? Afinal, por que estamos sendo homenageados? As homenagens que se multiplicam neste dia são oriundas de diversas fontes, que em sua maioria pouco se interessam pela a educação, que quase nada entendem do processo de educar para a vida.
Nós, nos permitimos a compor uma parte de uma estrutura disciplinar que olha para escola como um instrumento apenas de promoção de um conhecimento enciclopédico, e concordamos que as demais temáticas ficam para os pais; isso não passa de um discurso camuflado com toques fascistas e conservadores. Homenageados por não percebermos que estamos contribuindo para um retrocesso da sociedade e para a transformação de nossas escolas em figuras semelhantes aos mosteiros medievais, onde as discussões não devem ultrapassar os limites postos pelas igrejas e “teóricos como o MBL e Frota”.
Não vejo motivo para homenagens. De fato, peço desculpas atrasadas por tanta sinceridade e por não consegui compreender a mediocridade de alguns. Mas essa sinceridade ofensiva, é fruto de um espírito que se inquieta com a educação tradicional e negadora da contemporaneidade, onde professores se comportam como catequizadores no amplo sentido histórico do termo; que não aceitam a cultura e tradições dos alunos, que chegam nas salas de aula e impõem os saberes, que estupram as mentes e conhecimentos dos alunos.
Eles, nossos alunos, se rebelam, não copiam, não prestam a atenção, não fazem a tarefas, não aprendem, nossos alunos não aprendem propositalmente, e nós, que queremos ser homenageados hoje, os rotulamos de indisciplinados. Não, isso é uma reação rebelde, que ainda falta ser lida corretamente por nós professores. Há um mar de incompreensões, há um conjunto de anomalias no ambiente escolar que não é entendida e administrada inteligentemente por que deveria.
Professores que querem ser tratados como heróis hoje, são os mesmo que não leem a realidade contemporânea e se veem obrigados apenas com o currículo escolar. Digam-me, isso não signos de mediocridade? Será que não podemos acordar com esse sacolejar que estou tentando fazer? Como podemos ser homenageados, quando assumimos um discurso de educação bancária, positivista e comprometidas apenas com os índices? Quem inventou esse modelo de educação, não compreende a contemporaneidade.
Segundo os dados colhidos pela Prova Brasil em 2011, 34% dos professores de educação básica, não tem contato com livros, 21% dizem que leem esporadicamente. Como podem uma classe com tantos predicados negativos cobrar homenagens em massa neste dia? Sei que alguns professores podem nem chegar a essa parte do texto e os que chegaram, alguns estão lendo com um ranço de raiva enorme da minha sinceridade, mas sabem que esse retrato é verdadeiro. Não quero desqualificar a importância do professor neste dia, tão pouco desmerecer pelas suas contribuições em caráter geral.
Pelo contrário, quero instiga-los a refletir sobre suas práticas, pretendo leva-los a questionar sua postura frente aos nossos desafios da contemporaneidade, quero dizer que o velho formato não funciona e que precisamos mudar, olhar o contemporâneo com o olhar contemporâneo e não com estranhamento. Sim, posso até estranhar a contemporaneidade, isso é natural, mas não somos mais portadores de saberes, não somos mais figuras emblemáticas do conhecimento, não chegamos mais nas salas de aula com uma aura magistral e com pompas régias. Temos que entender que lá, somos mais aprendizes que professores, e os professores que compreenderem isso, serão o que sobreviverão ao futuro da educação.